Núcleos Regionais de Educação

Acesso Rápido

  • Concurso Agrinho 2021
  • Inscrições Formação pela Escola
  • Editais PSS 2021
  • Novas turmas GE Formadores
  • Cadastramento Currículo Seed
  • Chamada ordem de serviço 2020
  • Editais Professor Formador
  • Coronavírus 2020
  • convocações pss
  • CONVOCAÇÕES PARA VERIFICAÇÃO DE PERTENCIMENTO ÉTNICO-RACIAL
  • atribuição de aulas e funções
  • Agendamento PRPrev
  • divulgue sua escola
  • oliimpíada de língua portuguesa
  • OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS

Núcleo Regional de Educação de Toledo

Rua Nossa Senhora do Rocio, 1287 - Centro - CEP.: 85900-180
Toledo - PR | Fone/FAx: (45) 3379-7200  mapa Localização

NRE Toledo

04/02/2010

ESPECIAL: Educação Escolar Indígena

Preocupada em garantir o direito à escolarização dos indígenas, a Secretaria de Estado da Educação vem implementando, nos últimos anos, diversas ações que buscam ampliar e melhorar a oferta de Educação Escolar Indígena. Nas escolas indígenas, os alunos aprendem os conteúdos previstos em currículo mais a língua guarani. Os professores são preferencialmente indígenas e devem estar em constante processo de escolarização, caso não a possuam.

No Núcleo Regional de Educação de Toledo, estão previstas cinco escolas estaduais indígenas, sendo que uma já foi inaugurada, três estão em fase de licitação e a última está em fase de construção, com término previsto para março deste ano. Com isso, o NRE Toledo é o segundo maior em número de aldeias indígenas no Estado do Paraná. São seis aldeias guaranis, distribuídas nos municípios de Diamante do Oeste, Guaíra, Terra Roxa e Santa Helena, nas quais moram mais de 850 indígenas.

Tekohá Araguaju – Terra Roxa
A aldeia Tekohá Araguaju fica a 25 quilômetros do município de Terra Roxa, próximo a um porto de areia, nas margens do Rio Paraná. Por volta de 100 famílias estão “fixadas” no local, sob a liderança do Cacique Fernando Lopes. A aldeia espera a legalização do terreno onde residem para que possa ser construída a escola indígena, que já foi criada pela Resolução nº 5404/2008. Enquanto isso, as crianças e adolescentes estudam nas escolas regulares de Terra Roxa. É o caso de Paulina Cunha Takua Rocay Ponhy Martines, 17 anos, que concluiu o Ensino Médio e prestou em 2009 o Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná. Ela pretende cursar a faculdade de medicina.

Esta garota é um exemplo entre centenas de jovens e adultos indígenas que prestaram vestibular neste ano. Seis instituições de ensino superior participam do Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná, que acontece desde 2002, e é regulamentado pela Lei nº 13134/2001, que garante aos indígenas a oportunidade de concorrer em um vestibular específico.

Tekohá Marangatu e Tekohá Porã – Guaíra
O cacique da aldeia Tekohá Porã, Cláudio Barros, tem 93 anos e um sonho: ver uma escola construída em sua aldeia. Das mãos do professor Ervino Frederico Pott, responsável pela Educação Indígena no NRE Toledo, recebeu o documento que garante que em breve seu sonho se tornará realidade: a Resolução nº 5405/2008, de criação da Escola Estadual Indígena Tekó Nhepinrun.
A escola será construída em uma área quase em frente a casa do “seu” Cláudio, na aldeia Tekohá Porã. Até que isto aconteça, uma sala de aula improvisada serve de local para as aulas de guarani. O restante das disciplinas do currículo básico, as crianças e adolescentes aprendem nas escolas regulares do município de Guaíra, onde a maioria estuda.

Na aldeia Tekohá Marangatu, a situação não é diferente. Enquanto os alunos aguardam o término da construção da Escola Estadual Indígena Mbyja Porã, recebem aulas de Guarani na aldeia e das outras disciplinas na escola regular.

As escolas estaduais ainda não estão construídas, mas já possuem uma pedagoga para auxiliar no trabalho dos professores e preparar os documentos que norteiam o trabalho pedagógico escolar. Claudia Regina de Oliveira trabalha em ambas as aldeias e é daquele tipo de pessoa que não tem medo de abraçar uma causa. “Eu vi as aldeias como que entregues a própria sorte. É duro você trabalhar em um lugar, dentro de uma mata fechada, onde no inverno a temperatura vai abaixo dos 5º C, e as crianças e adolescentes só de shorts e camiseta. Vendo as crianças correrem ansiosas pra escolinha na hora do recreio pra comer a merenda, porque muitas vezes esse é o único alimento que eles tem pra comer no dia”, conta a educadora, que diz que sentiu que tinha que tentar fazer alguma coisa para ajudar a melhorar a situação dos indígenas nas aldeias atendidas, “minha relação com os indígenas é de amizade, nós temos uma relação de respeito, sendo tanto amiga quanto educadora. Trabalhando como pedagoga às vezes eu entro em sala de aula para ajudar os professores em situações nas quais eles não tenham tanto domínio, ajudo eles a elaborarem e planejarem as aulas, mas como amiga também tento conseguir agasalhos, cobertores, comida e desenvolvo outros projetos como o da horta orgânica.”
A horta orgânica foi um projeto iniciado em 2008, no qual os indígenas de ambas as aldeias conseguiram, com o apoio de Claudia, da EMATER, e de diversos parceiros da comunidade de Guaíra, que doaram sementes e ferramentas para o plantio, cultivar uma horta de produtos orgânicos. Só a horta da aldeia Tekohá Marangatu hoje ocupa uma área de 900 m2, alimenta as famílias indígenas e ainda tem o seu excedente vendido e revertido em lucros para a comunidade. “Em 2008, a horta servia apenas para o consumo deles. Foi um projeto que deu certo, na qual eles cultivam, eles cuidam, e agora estão vendendo o excedente. Isso está refletindo até nos nossos alunos da escolinha, que estão tendo mais qualidade de alimentação e melhorando no desempenho escolar.”, relata a educadora. Ela também comemora outra vitória: a criação da primeira Associação Indígena, no município de Guaíra. Claudia conta que com a ampliação da horta, surgiram novas necessidades e que para conseguir benfeitorias como maquinários e implementos agrícolas a aldeia precisava de uma associação devidamente regulamentada. “Com muito trabalho e a dedicação de muitas pessoas envolvidas, nós conseguimos montar a primeira Associação Indígena, com CNPJ, declarada e publicada oficialmente como uma organização sem fins lucrativos. Com isso, fica mais fácil montar projetos e conseguir benfeitorias para as aldeias.”

Acampamento na Base Náutica - Santa Helena

Os indígenas do município de Santa Helena ainda estão em busca de um território legal em que possam residir. Hoje, eles estão acampados próximo a Base Náutica, a 25 km da sede do município. São aproximadamente 25 famílias, de origem guarani e que provêm de São Miguel do Iguaçu. O cacique da aldeia, Pedro Reroyvyju Alves é cursista do Protocolo Guarani, um programa de formação de professores indígenas guaranis elaborado e custeado conjuntamente pelo Ministério da Educação e as secretarias da Educação dos Estados do Paraná, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A aldeia aguarda uma definição quanto ao território habitado para poder dar entrada nos trâmites de implantação de uma Escola Estadual Indígena. Enquanto isso, já funcionam duas turmas do Programa Paraná Alfabetizado - PPA. Na sala de aula construída com toras de madeira e coberta de lona, o professor Melci Gonzales ministra as aulas da alfabetização aos jovens, adultos e idosos da aldeia, que irão desvendar a leitura e a escrita da língua portuguesa.

Tekohã Añetete e Tekohá Itamarã – Diamante do Oeste
Subindo e descendo pequenas serras, atravessando pontes, e rodando de 12 a 21 km de estrada de chão a partir do município de Diamante do Oeste, encontram-se as aldeias indígenas Tekohã Añetete e Tekohá Itamarã. Com um território definido e legalizado, e com as escolas indígenas funcionando, os indígenas de Diamante do Oeste parecem estar um passo a frente na conquista de um espaço próprio, onde possam prosperar e viver com dignidade.
Na aldeia Tekohã Itamarã funciona a Escola Estadual Indígena Araju Porãa, ainda em instalações provisórias. A construção da nova escola está em fase de licitação, e terá recursos em parceria com o Governo Federal. Além de suas atividades normais, a aldeia recebe a visita de alunos e professores de outras escolas que tenham interesse em conhecer a cultura indígena, desde que a visita seja agendada.
Já a Escola Estadual Indígena Kuaa Mbo’e é a primeira a ser inaugurada em instalações próprias. A aldeia Tekohá Añetete recebeu a Secretária de Estado Educação Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde, entre outras autoridades estaduais para a inauguração, que aconteceu no início de 2009.
Quase um ano depois, o cacique da aldeia Mario Tupã Renda Lopes, comenta a importância de uma escola na aldeia “Quando as crianças estudam na aldeia é diferente, elas se sentem mais a vontade, gostam mais. Os pais também podem acompanhar, eles sempre vêm na escola”. Mario, que já participou da elaboração do livro “Olhares: De Guarani para Guarani”, que reune pesquisas sobre 11 aldeias indígenas, seus costumes e histórias, também está estudando e pretende, no futuro, prestar vestibular para o curso de História.
Para o diretor da escola, Jairo César Bortolini, trabalhar com os indígenas vem sendo um aprendizado gratificante “É uma experiência diferente porque trabalhamos com um povo diferente, com outros costumes, outra língua”, afirma e ressalta algumas diferenças entre os alunos da escola indígena “Aqui não temos problemas de indisciplina, o respeito aos mais velhos é um costume e os professores são muito considerados.”
A Escola Estadual Indígena Kuaa Mbo’e tem 118 alunos matriculados para o ano letivo de 2010. São turmas de Educação Infantil e Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Finais. Há ainda, a previsão de abrir duas turmas de alfabetização do Programa Paraná Alfabetizado.
Nos dias 02 a 05 de fevereiro a aldeia Tekohá Añetete está recebendo também o Encontro dos Povos Guarani, um evento que reune mais de 800 indígenas, de toda a América Latina e terá destaque nacional, através do Ministério da Cultura – MINC e da TV Cultura.


Mesmo com os esforços e avanços que cada aldeia vem conseguindo, ainda há um longo caminho até que se possa dizer que há inclusão de fato. Problemas como fome, falta de agasalhos e de recursos básicos de saneamento, sem contar a exposição a doenças costumam ser uma constante. No entanto, ações como a implantação de escolas indígenas podem se tornar um elo de ligação entre a sociedade indígena e não indígena, na medida em que o conhecimento oferece subsídios aos indígenas para interagir com o mundo atual de maneira mais consciente.
É o que acredita o Coordenador da Educação Indígena no NRE Toledo, Ervino Frederico Pott, “A escola indígena, da maneira como está sendo apresentada no Estado do Paraná, também é um elo de ligação entre a sociedade indígena e não indígena, pois as crianças estudam dentro de um currículo bilíngüe.” afirma, e ressalta a importância das escolas indígenas, “Os povos indignas têm seus próprios meios de produzir e transmitir os conhecimentos necessários para garantir a sua sobrevivência e da comunidade e a preservação das tradições culturais. Além disso, eles possuem seus códigos jurídicos e sociais que orientam o comportamento individual e grupal. Isto faz com que a educação deles seja diferenciada, e com isto a necessidade da existência das escolas indígenas dentro de suas próprias aldeias, com currículos desenvolvidos e discutidos por toda a comunidade.”

Anna Carolina de Oliveira
Assessoria de Comunicação - NRE Toledo

Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.